Nunca antes uma paisagem tão cinza e opaca como a impregnada nas montanhas áridas das curvas chilenas havia me arrebatado assim. Algumas vezes já me senti intimidada frente a imponentes paisagens, como diante da Muralha da China, ou diante de uma savana africana, mas as cores do Chile imprimiram um tom de respeito em tudo o que eu já havia ousado imaginar sobre ele.
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Subindo ao Valle Nevado pela primeira vez |
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Na estrada rumo à Argentina |
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Caminhos íngremes |
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Surpresas do caminho |
Tão vasta é a possibilidade de se encontrar com diferentes países em um só, que é necessário limitar-se em um primeira viagem a um ponto determinado e explorá-lo muito bem, principalmente quando não se tem muito tempo e se tem três crianças na "bagagem". Por ser a primeira vez no Chile, prendi-me ao óbvio: Santiago, arredores, Valle Nevado, Valparaíso, Viña del Mar, vinícolas, e a tentativa de chegar a Paradas Caracoles. E digo que foi o suficiente para sair surpresa e satisfeita de lá. Logicamente, com planos de retornar para os "extras" imperdíveis do Chile - o Atacama, o Sul ou a Patagônia dariam mais umas três viagens, pelas minhas contas... Mas pelo tanto que gostei de lá, creio que as contas podem não parar por aí.
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Viña del Mar |
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Valparaíso |
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Viña del Mar |
O frio estava se acentuando a cada dia e as montanhas da Cordilheira dos Andes, suntuosos limites aos nossos olhos, estavam prestes a serem cobertas cada vez mais de branco. Durante todos os dias em que ali estive, não me cansei de encarar os picos nevados e tentar, sem sucesso, absorver os mistérios de uma natureza e de uma realidade que não me pertencem.
Depois de uma noite nevando na Cordilheira, os picos amanheceram ainda mais branquinhos. Foi como um presente vindo dos céus para quem estava muito a fim de ter esse vislumbre.
Bonito de ver e ao mesmo tempo tão simples foi o estreito Rio Mapucho escorrendo tímido pela Cordilheira, em seu silêncio sagaz, como a não se delatar para não ter que pedir passagem. São retratos de um Chile que se explora nas entrelinhas.
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Rio Mapucho no meio do caminho para o Valle Nevado |
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Grande Torre Santiago, o Ed. mais alto da América do Sul e a Cordilheira |
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Contraste entre a natureza (Cerro San Cristobal) e a modernidade |
O respeito à natureza é um constante lembrete todas as vezes que erguemos os olhos para o horizonte, seja em Santiago, seja na estrada rumo à Argentina, seja nas curvas íngremes do Valle Nevado. E nos lembramos o quão pequenos somos diante de tudo aquilo. Mas mesmo sabendo-nos pequenos, em um lapso de inconsciência, pensamos ser grandes e aventureiros por desbravar aqueles caminhos íngremes e cheios de curvas fechadas das estradas que nos levam ao alto, tal qual incas dos tempos modernos. Subindo rumo ao Valle Nevado, a estrada repleta de ciclistas nos traz de volta à realidade de meros turistas... Aventureiros são eles! O ar rarefeito, a alegria de chegar, o encantamento com a possibilidade da neve pela primeira vez, a falta de intimidade com ela... tudo isso faz parte da magia do Chile. E isso mexe com todos os sentidos.
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Neve pelas encontas |
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Valle Nevado |
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Valle Nevado |
Exploradores ou não, a possibilidade de regressar a Santiago no fim da tarde e viver uma vida moderninha de turista em seus Shoppings bacanas, em seus bairros mais novos, tira-nos da onda de desbravadores e nos devolve à realidade, que de uma certa forma nos aquece. Imperdível é também explorar Santiago, que preserva sua história em seu Centro facílimo de explorar a pé, tem boa gastronomia e muita paisagem, em um contraste finito entre os arranha-céus modernos e a Cordilheira dos Andes, entre o antigo e o novo.
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Mercado Central |
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Plaza de Armas, contrates |
Ah sim... as cores do Chile, impressas em minha alma para além de todos os sentidos, não serão cinzas, nem brancas, nem áridas como as que vi desenharem-se ao meu redor. Serão para sempre matizes de infinitas possibilidades, de um sentimento, de um êxtase que não tem limites.
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