sábado, 8 de fevereiro de 2014

LAS VEGAS E SEUS NEÓNS

    Sobrevoar a vastidão silenciosa do Grand Canyon é deveras impressionante. Principalmente para quem teve que dispensar uma visita a ele. Atravessávamos o espaço aéreo dos Estados Unidos de leste a oeste depois de ter passado alguns dias nos Parques de Orlando com nossas crianças. A programação para conhecer Las Vegas no fim das férias foi extremamente empolgante para mim e para meu marido, mas um pouco fatigante para os pequenos. Mesmo assim, era a nossa vez e nos demos o direito.
Grand Canyon visto do alto
          Todo mundo que chega a Vegas deve se admirar instantaneamente com o convite a céu aberto ou fechado, principalmente, à jogatina. Os caça-níqueis estão por toda a parte, desde o aeroporto até sabe Deus onde! E por Las Vegas passa de tudo: ávidos jogadores de fim de semana, famílias em férias, cowboys e cowgirls, milionários, gente que acaba de quebrar a cara, gente que gosta de encher a cara, gente disposta a tudo, idosos, pouca criança e muita badalação.    
            Um oásis no deserto. Uma visão mirabolante para o calor de Nevada. Uma sacada de gênio no país da diversão. Las Vegas é um pouco de tudo no meio do que um dia foi nada. Várias cidades em uma. Miragem turva de réplicas ao estilo mais americano possível de lugares onde gostaríamos de estar. Quase tudo em uma única rua e seus desvios ou desvarios: The Strip. 

The Strip
         The Strip corresponde a 6,7Km da Las Vegas Boulevard. Tão curta, mas tão intensa! Com isso, pode arrancar o tempo que quiser de seus passantes. É, sim, muito mais densa do que nos delata em um primeiro vislumbre. Seus hotéis laçam-nos em suas tramas para nos fazer perder a noção de direção e tempo. Proposital? Os corredores não arejados carecem de luz natural e a sensação de sufocamento é algo a que se habitua depois de algumas horas. Uma ligação intrigante entre um e outro hotel nos convida a andar por horas a fio entre cassinos e malls das mais refinadas grifes, mesmo que as roletas não tenham rendido um níquel sequer. Vegas é também a cidade que faz o impossível parecer tangível.
            O som característico das moedas despencando dos caça-níqueis e o som dos botões que, quando apertados, fazem girar os olhos em busca de uma combinação vitoriosa, transformam Vegas em uma exuberância a ser pensada, mas não entendida. Para quê entender? Pôquer, bebidas, roletas. Bolsos vazios ou cheios se perdem nas horas que se desfazem nos corredores obscuros. Os hotéis e seus labirintos fazem o dia parecer noite, a noite parecer dia. No “The Venetian”, onde o céu é pintado de azul claro, temos a impressão de que o tempo somos nós quem fazemos à nossa maneira. Pelo menos em Vegas, o tempo não entra na conta. E não deve ser levado em conta. As pessoas perdem a noção e o amanhecer é um luxo que nem se vê. 

De dia quando é noite
Gôndolas no Venetian
          Os neóns atraem ou repelem. E de tão cafonas, chegam a ser “cool”. Sem neóns, não há Las Vegas. Tudo atrai, chama, convida. Mas na terra onde o excesso é lei, as regras viram do avesso e nós viramos também.
            Basicamente pode-se dizer que o charme e a vida de Las Vegas se concentram nos hotéis. Há desde os mais caidinhos até os mais bacanas, tipo daqueles que não são para o nosso bico. Toda a alma da Strip está concentrada neles.
            No extremo Sul, estão hotéis como o Mandala Bay, Luxor e Excalibur. O Mandala Bay guarda como trunfo o Shark Reef Aquarium. Com crianças em Vegas, a viagem se transforma em outra e esta é uma ótima alternativa para os pequenos. Vegas tem muitas atrações para eles. O Excalibur traz a lenda do Rei Arthur como pano de fundo. New York, New York, com a Estátua da Liberdade, enfeita ainda mais a cidade e faz Vegas parecer um mix do mundo em via de mão dupla. Além disso, traz a aventura em formato de uma montanha-russa bastante alta e veloz. MGM, do outro lado da Strip, tem como atração um zoo, Arena de Lutas, shows do Cirque Du Soleil e David Copperfield. Aliás, Cirque do Soleil, mágica, shows medievais, eróticos, rodeios, lutas, música, são apenas uma parte do espetáculo espalhado por toda Strip.

Luxor
New York, New York
            A esta altura, as luzes já confundem nossa percepção e a Strip já se tornou uma gigante. Quanto mais se embrenha Vegas adentro, menos se sabe sobre ela. Para o Norte, até Paris com a Torre Eiffel em tamanho reduzido dá as caras por ali. Em frente, o suntuoso, mas nem tanto, Bellagio. Suas fontes magníficas dançantes produzem um lindo espetáculo a cada trinta minutos.
Cassino Bellagio
Fontes do Bellagio
Paris, Bally's, Ceasars Palace...
         Dos mais tradicionais Hotéis de Las Vegas, o Flamingo é pura história e a sua imagem fala por si só. Nesta mesma área, impõe-se o bacana Ceasars Palace e suas luxuosas grifes. Bem próximo, está o Mirage, com seus golfinhos e o seu vulcão em erupção. O Treasure Island e seus piratas ficam em frente a Veneza (The Venetian) e somente em Vegas isso seria possível. E olha que os tais piratas sequer navegariam em gôndolas no Adriático. O Encore e Wynn surgem mais ao Norte, com todo o seu luxo imponente marcado pelos reflexos do sol em seus espelhos, como deuses intocáveis.
Interior do Venetian
O luxo do Encore
A suntuosidade do Wynn
The Venetian / Treasure Island
The Mirage
         Para os aventureiros, há o Stratosphere, com atrações de arrepiar até os mais corajosos: X-Scream, Insanity e Big Shot. Afinal, ficar pendurado acima do 108o andar e ver a cidade parecer formiga não é para os fracos. Só brinca quem estiver disposto, mas a vista é para todos. Suas montanhas desérticas ao fundo garantem satisfazer qualquer ideia que se tenha tido ao subir.

Vista do alto do Stratosphere
X-Scream no Stratosphere
     Mas Las Vegas vai muito além da Strip, dos labirintos sem fim de seus hotéis interligados, dos buffets que esbanjam comida a um preço inacreditável. Há inúmeras atrações em seus arredores. E quem não chegar até Fremont, a verdadeira e antiga Vegas coberta por neóns até no teto, não se embrenhou de verdade em seus segredos. Mesmo para quem não tenha ido se casar na White Chapel, Las Vegas consegue ser romântica ao mesmo tempo em que é um ícone do absurdo.
Fremont 
            À medida que os olhos atentos e curiosos tentam decifrar o que há no interior dos grandes hotéis, a rua fica sendo um detalhe que se esqueceu de contemplar. É preciso parar, decidir, voltar para o mesmo ponto e retomar. E ainda quando se compreende que uma rua não é feita de apenas duas margens, quando se nota que há muitas facetas a explorar, é aí que a viagem faz sentido e o tempo muda seu curso em nossos relógios interiores.
.           Os filhos crescem e um dia vão gostar muito mais de Vegas do que o dia que você a apresentou a eles. Mesmo Vegas tendo tantas atrações para manter as crianças entretidas, elas nunca vão gostar tanto de Vegas quanto nós. A Disney, para elas, fica lá do outro lado. Vegas é, sim, por excelência, o parque temático de adultos, de vários temas e mil contornos, no tempo e da forma que quisermos desvendá-la.