sábado, 25 de janeiro de 2014

LOURMARIN, A INSPIRAÇÃO NA PROVENCE

        Nem demorou tanto o trajeto entre a Abadie de Senánque e Lourmarin, um outro vilarejo especial no coração da Provence. É, outrossim, um deleite trafegar pelas estreitas estradas da região, absorvendo o ar puro e as vistas esplêndidas que a Provence proporciona.
         Apenas por um dia, um caminho que nos leva por onde passearam os sonhos. Assim é percorrer suas tranquilas pistas. Visão de turista entremeada com a vida que se leva por ali. Pontos de vista diferentes, mas o ar que respiramos é o mesmo. E a inspiração, então...
Que o diga Peter Mayle! O inglês autor de Um ano na Provence e Um bom ano, que depois de viver em Menerbes, alongou-se por Lourmarin e fez dela a sua morada. Terra também de Albert Camus, o vilarejo é um convite para ficar mais do que se planejou. Eu bem que gostaria. Mas infelizmente, quando programamos a viagem, raramente temos a noção exata do quanto o nosso coração demandaria se alongar.
Era domingo. Domingo de Julho. Pode-se fazer ideia da invasão dos turistas apenas pelas datas. E pode-se ter ideia de que o sossego provençal quebrado pelos curiosos não deva ser tão agradável aos franceses quanto o burburinho de uma nova descoberta é para nós.
Um campinho de futebol lotado demonstrava que não só no Brasil é que o esporte tem grande adesão. O que arrematava a vista – e o diferenciava de vez do Brasil - era o Castelo renascentista imponente posicionado nas proximidades: Villa Medicis de Provence. Claro, o tradicional trânsito de turistas em seu interior e ao seu redor denotavam que sua história ficou no passado, de fato. Ele agora é um troféu nas fotos que os turistas vão guardar em suas lembranças. Seu entorno romântico, sua cave de vinhos, as heras que envolvem seus contornos, as oliveiras que o cercam, convidam para uma pausa. E tudo o que se tem mais direito em um domingo na Provence é a uma pausa.
Lourmarin
Castelo Villa de Medicis
Oliveiras 
Castelo em Lourmarin
Não me alonguei demais. Nem poderia. Turistas lotam de compromissos mesmo um dia na Provence... Na Provence!!!
Mas as ruelas são um atrativo para um café. A cidade, uma companhia solitária em meio aos vultos dos turistas. Um momento para pensar na vida que não me dei. Na vida tão diferente que em nosso real dia a dia vivemos. Nos instantes de paz dos quais me privei nesses anos de correria sem sentido.


Cave no Castelo
Vinhos em Lourmarin
O vilarejo pequeno e suas ruas estreitas, suas casas ocres, ávidas por vida, chamavam a mim, como chamaram a Albert Camus, a Peter Mayle e as multidões de turistas que por ali se encaixam todos os anos. O vilarejo me convidava a refletir sobre os rumos que tenho dado à minha vida. E cada um aproveita o convite à sua maneira peculiar.
Heras cresceram ao redor do Castelo em anos que não voltam, e que não ousaríamos repetir. As heras que foram soerguidas ao mesmo tempo em nossos muros menos nobres de alvenaria encobrem nossas falhas com seus densos ramos. São nosso irregular reboque e se confundem com as folhas ressequidas que se esvaem pelos vãos de nossos dedos. Nossos dedos, que há muito perderam a contagem do tempo... E assim deixei transcorrerem as horas no coração de Lourmarin.
Os verdes dias do passado irão sempre sugerir e instigar uma curiosa olhadela por sobre os altos muros que construímos ao redor de nós mesmos, tais quais as altas e imponentes fortalezas do tal Castelo. E o passado será sempre irresistível através dos altos muros que hoje nos dividem. Muros que sempre apartam: presente e passado, o agora e o depois, o hoje do nunca mais, uma viagem e a nossa vida tão comum e, finalmente, Lourmarin de nossas simples cidades. Mas é na simplicidade de nossas vidas que construímos nossos castelos particulares, nossos sonhos e nossos campinhos de futebol.
O café acabou. Mas Lourmarin continuará para todos os turistas que por lá se alongarem em pensamentos.
Bati a poeira dos pés, calcei de volta meus sapatos, e segui o rumo da estrada que me levaria a algum lugar que ainda, até agora, desconheço. Para quais direções mesmo levam as estradas sinuosas da Provence?