domingo, 15 de abril de 2012

BUENOS AIRES, MI BUENOS AIRES QUERIDO


     Caminhar por todos os lugares possíveis, desbravando uma cidade que nem é tão enorme pelo que representa para o 8o. maior país do mundo, é uma aventura bem agradável. O clima de Buenos Aires favorece isso. Mas o clima mesmo no ar é o que nos movimenta. Uma selva de pedras às avessas, com fileiras de prédios colados uns aos outros, de uma arquitetura assombrosa e espetacular, Buenos Aires tem os "tempos de antigamente" fluindo em suas artérias.
Plaza de Mayo com meus filhos

     Uma cidade que pulsa. Latinamente ferve em suas ruas frias o andar caloroso de um povo receptivo e seus muitos turistas (muitos, muitos brasileiros). Nada pôde emergir daquela sensação que a visão estereotipada da velha rivalidade futebolística  me causava. Não sei se é porque o futebol brasileiro já não tem sido motivo para defesas em público... Carecemos de heróis nacionais. Fato é que meu filho saiu de lá orgulhando-se de vestir a camisa da seleção Argentina com o nome de Messi impresso. Nossos filhos não reconhecem mais os nossos heróis. Sim, mas Neymar faz bastante sucesso por lá... por causa da tal musiquinha... Ai, futebol! E por falar nisso, a Argentina ainda vive à sombra de Maradona, e teimam que ele é melhor que Pelé. Mas futebol não se discute.
      Mas foi incrível rasgar as avenidas desbravando uma Buenos Aires fervorosa, e entrar no meio de uma manifestação popular bem acalorada, em frente à Casa Rosada. Isso é comum por lá. Então por que só o povo brasileiro se cala? É porque não tivemos uma Evita Perón para convocar as massas para que expussessem os seus sentimentos e opiniões? 
Manifestação popular com Obelisco ao fundo
Casa Rosada
       A Plaza de Mayo, muito agradável, representa em pouco espaço a história da Independência. De um lado, a Casa Rosada, e cruzando a pé toda a Avenida de Mayo (por vários quarteirões), deparamo-nos com a sede do Congresso, para lembrar os governantes que quem limita o poder é o povo, pelo sistema bicameral. Mas o mais legal é o meio do caminho... prédios, mansões antigas e suas muitas histórias, cafés como o famoso Café Tortoni! Fundado em 1858, é o café mais antigo de Buenos Aires, e seu interior parece que ainda está no século XIX.



Congresso - sistema bicameral
       Mas Buenos Aires sem tango, sem Carlos Gardel, não é Buenos Aires. Há muitos shows pela cidade, e também é possível ver casais dançando no "Caminito", em meio às casinhas coloridas, perto de onde nasceu o tango. Tomar uma Quilmes, ou um bom vinho, comer os tais bifes argentinos (maravilhosos de tão macios...), conhecer a "La Bombonera", estádio do Boca Juniors, é apaixonante! O show de tango coroa o sentimento por uma cidade que parece preservar a sua identidade em cada situação. Apesar da economia complicada, o povo é bem receptivo e parece feliz.
Família no Caminito
       Um passeio que achei interessante, mas dispensável, foi ter ido ao Cemitério da Recoleta, o bairro mais nobre da cidade. Muitos ex-presidentes e figuras importantes, inclusive o Mausoléu de Evita Perón, estão por lá, sem falar na impressionante arte daquele local. Mas não eu voltaria.
       Impossível não mecionar a Calle Florida e as Galerias Pacífico. Afunda-se o chão por essa rua de compras onde é possível achar muitos casacos de couro, botas e roupas que aqui no Brasil seriam certamente mais caros. Os brasileiros parecem ter marcado encontro por lá. Ruas como a Córdoba, Santa Fé e Corrientes, não podem ser ignoradas. A Av. 9 de Julho, a maior de toda a Argentina, ostenta o obelisco como trunfo. Puerto Madero, um velho local de galpões no cais do porto do Rio da Prata, foi completamente restaurado e hoje é celebrado como local nobre, com vários restaurantes reunidos! Mas o melhor é sentar-se em um café, perder-se no tempo, sentir o aroma do mundo ao redor de você! E perceber que o mundo continua a girar, sem dar conta de sua presença.
Galerías Pacífico
        Mas indispensável mesmo é fartar-se dos deliciosos alfajores, com muito doce de leite... Os "Havanna" foram a minha melhor aquisição: uma doce lembrança que trarei comigo, ao melhor sabor da Argentina.  Os preços é que estão atuais demais. A inflação da Argentina ultrapassa os limites da nossa inteligência (sim, para um país que finge não ter memória como o nosso...rsrsrs). Viajar para lá está mais salgado do que doce...
        Das muitas coisas que pude perceber, a que mais me marcou foi que "Los Hermanos" respiram passado e nostalgia a cada esquina, nas fachadas de seus prédios sombrios, nos interiores de seus cafés. Um passado que aqui em nosso país é ignorado pelo povo. Um povo sem passado não é um povo. É um aglomerado! Talvez esta seja a resposta... Por quê? Por que o povo se cala?