domingo, 23 de março de 2014

CUCURON – A PRAÇA, UMA TARDE E NENHUMA SOLIDÃO

         Costurando os caminhos da Provence, é possível se deparar com algo fora do comum, em um lugar em que tudo é incomum. A apenas 8Km de Lourmarin esconde-se Cucuron. Ainda na Provence, mas nada de mais do mesmo, pois a Provence é uma surpresa a ser desvendada por olhos coesos e sensíveis ao menor de seus apelos.
Eu estava em busca, especificamente, da Praça L’Etang. Foi lá um dos encontros de Russell Crowe e Marion Cotillard, protagonistas de “Um bom ano”, de Ridley Scott. Mas mais do que cenário de filme, descobri em L’Etang uma daquelas típicas praças que não se acredita que existam fora das telas.
Place L'Etang

Place L'Etang
Pelo menos por toda a tarde, por toda a vida, ou por questão de horas, não se quer arredar o pé dali. Um lago construído e mantido para ser o centro, ladeado por plátanos, delicadamente protegido por uma sombra espetacular, no ritmo doce provençal, cercado de mesinhas que se estendem ao redor da praça. Assim é L’Etang.


E a impressão que se tem é que Cucuron começa e acaba ali, ao redor da praça. O começo e o fim. O que não é bem verdade. Cucuron tem algumas poucas ruas muito interessantes, com casinhas medievais delicadamente cuidadas, com suas janelas pintadas de cores sutis, com suas lavandas emoldurando as tardes das senhoras que se debruçam nos parapeitos das poucas janelas que se expõem. E assim a tarde se esvai. 
Ruas de Cucuron

Ruas vazias em um domingo à tarde

Cucuron

Cucuron

Igreja em Cucuron

Portais medievais em Cucuron
Muitas outras janelas fechadas em um domingo à tarde. Onde estavam todos? Seria Cucuron habitada ou uma miragem no coração da França? Mas em volta da praça... Ah! A praça... Todos pareciam estar ali. Ruas vazias, poucas pessoas. E a cidade às sombras de uma praça encantadora, cultivando um quê de solidão, mas onde a solidão não dá as cartas.
Todo mundo em L'Etang
Cucuron tem um movimento tímido, no ritmo que a cidade pede. L’Etang é o lugar dos encontros, assim como no filme. Nosso encontro com uma França bem escondida, ou talvez um encontro com a nossa própria essência, quando vasculhamos nossa alma, quando nos olhamos nos reflexos daquelas águas do lago da praça. No silêncio de um domingo à tarde...
Na esférica aventura entre seus contornos, é perecível todo instante que faz da praça um universo. De mãos dadas, seguimos... Tão juntos e tão ajustados, que Cucuron foi uma passagem em nossas vidas. Ou nós, que passamos sem deixar marcas, em nosso trajeto único, sempre avante. Gostaríamos de ter ficado. Mas é Cucuron que fica. Não pálida e sem jeito ao redor da praça, mas em nosso imaginário do ideal de uma bela vida sossegada.