quinta-feira, 2 de junho de 2016

GRASSE - PERFUME DE ÓTIMA QUALIDADE

Não é em Cannes, onde o céu de verão enfeita um cenário de ostentação e luxo, e a fragrância se sustenta e se prolonga suspensa por nossas narinas em fins de tarde perfumados, que a história tem início.
Enquanto Cannes vê corpos desfilando segredos que não revela nem mesmo aos descuidados, é na cidade e colinas ao lado que a mágica acontece. A menos de 20Km dali está localizada Grasse, que desponta de forma tímida. Quase um contraste.
É ela que dá forma e sutileza ao glamour na sua forma surreal com a qual identificamos os franceses: a perfumaria. Grasse é a capital mundial de perfumes e hoje produz para grifes como Dior, Rochas e Chanel.

Grasse
Grasse divide com Eze, próxima dali, a fama de fazer os melhores perfumes. Mas ainda assim está à frente de sua vizinha. Pela sua posição geográfica e pelo clima, em sua terra são cultivadas essências, como: rosa de maio, flor de laranjeira, lavanda e jasmim. Mas Grasse também importa outras fragrâncias para poder dar corpo e forma à sua produção, assim como aos concentrados. É uma indústria artesanal muito mais apurada do que as químicas.
                Aliás, a graça francesa está no artesanal. Para eles, o poder de criar de forma delicada, seja um perfume, um quadro, ou pratos em sua culinária, é o que dita o ritmo de suas vidas. É uma afronta fugir desse senso.
Como uma boa cidade medieval, Grasse tem seu charme em suas ruas estreitas e casas em tons sutis. Mas o que atrai os turistas não é bem isso. Há muitas visitas a serem feitas, como o Museu Internacional do Perfume e em fábricas.  No Museu, o visitante faz uma viagem à história da perfumaria que aguça os seus sentidos.

Parfumerie Fragonard
Produção de perfumes
Histórico da Fragonard
Uma das visitas mais tradicionais é à Parfumerie Fragonard, em homenagem ao pintor Jean-Honoré Fragonard, uma das mais conhecidas da França. Foi concebida em 1782, mas ainda com outro nome nesta época. A entrada é gratuita e apesar da visita não adentrar muito no universo da produção, não explorando segredos mirabolantes, a visita vale a curiosidade. No caso da Fragonard, há uma loja ao final do passeio, onde é possível encontrar fragrâncias exclusivas da marca, o que torna tudo muito tentador.

Loja ao final do passeio
O passeio foi rápido e durou pouco, tão pouco quanto a fixação de uma fragrância que se dissipa ao longo do dia. Cannes é tentadora demais para que todas as nossas horas se exaurissem entre as estreitas ruas de Grasse.
Todo bom perfume deixa seu rastro. E algumas fragrâncias nos remetem a memórias. Talvez Grasse continue e se prolongue, como um perfume de ótima qualidade. Enquanto Cannes lança seu tapete vermelho, Grasse se esconde por entre as colinas. Seus moradores sabem que seu perfume atravessa as noites de Cannes e vai até os confins da Terra, enquanto eles fecham os olhos para alcançar um novo dia.


sábado, 25 de outubro de 2014

CANNES E SEU GLAMOUR PERMANENTE

Cenário fabuloso. Assim é Cannes, jóia da Riviera Francesa. Seria interessante, interessantíssima para o cinema e seus festivais, não fosse ainda mais interessante a olhos nus, em pleno verão francês. O que vimos em Cannes foi um desfilar da boa vida, uma confusão a céu aberto com a sétima arte, pois seus frequentadores emprestam a ela uma aura no melhor estilo Hollywood, só que com o requinte francês.

La Croissete
Iates em Cannes
Não bastasse o tom do Mediterrâneo, a ostentação dos iates enfileirados e os guarda-sóis se repetindo ladeados nos tons mais previsíveis, o que vi em Cannes foi uma sobreposição de grifes, carrões e corpos dourados no calçadão à beira-mar, o La Croisette, refinando ainda mais o nosso imaginário sobre um autêntico verão francês. Em terra de cinema, o que é pode não ser. Ou tudo pode ser exatamente como é.

Orla no Mediterrâneo
Cenário perfeito
Típico verão em Cannes
Guarda-sóis em Cannes
Símbolo de status e glamour, só que não óbvia. Tudo gira em torno de surpresas. São cassinos, Ferraris, mulheres bonitas, homens sofisticados, o mar claro da Côte D’azur. Um balneário de milionários e famosos, e alguns turistas curiosos como nós. Tudo tão encantador que o Palais des Festivals, onde acontece anualmente o Festival de Cinema de Cannes desde 1946, foi um mero detalhe.

Palais des Festivals
Mesmo estando lá por outros motivos, não há como negar que o Festival de cinema de Cannes é o mais importante dos festivais. E que os olhos de cinéfilos do mundo todo já se voltaram para lá alguma vez na vida, ou anualmente, talvez. E não há como negar que estar nesse lugar, poder mergulhar em suas águas geladas, ou assistir ao desfile maquiavélico dos carrões que cruzam nosso caminho em um número maior do que o razoável, é um privilégio dos grandes.

Um mergulho no Mediterrâneo
Cannes
Cannes
La Croisette
Carrões
Para completar, o belo conjunto Belle Époque e Art Déco de sua arquitetura encerram com chave de ouro as memórias que de lá você vai levar. Um sol tímido de fim de tarde, incidente e diagonal, também vão dourar seus pensamentos, quando você ousar cerrar seus olhos e pensar em Cannes.

Hotel Carlton
Grifes - Valentino em Cannes

Enquanto você cruza o boulevard, pode escolher um lugar tranquilo para se sentar e apreciar o espetáculo de estar por lá. É cruzar as pernas para o alto, mirando um horizonte finito, e pensar: “Estou em Cannes”! Mas com um porém, e dos grandes. Ao final do dia, sacuda a areia dos pés, recolha suas coisas e dê as costas, saindo de um mundo que não lhe pertence. Aliás, a impressão que se tem, é que tudo ali pode mesmo ser de mentira. Não tem como pertencer a ninguém. Cenário montado, talvez. Marketing hollywoodiano. The end.

The end

sábado, 6 de setembro de 2014

SAINT-TROPEZ – A ESSÊNCIA DE BARDOT

Foi nas curvas das estradas sinuosas que levam a Saint-Tropez que senti o quão sofisticada, exclusiva e misteriosa a França pode ser. Tão longe do burburinho de Paris, chegar até lá não é complicado, mas para quem não conhece nada, não é das tarefas mais simples.

Curvas para St-Tropez
O balneário é para poucos e poderosos, pois os preços não são convidativos. Mas pelo menos vislumbrar essa beleza por um pouquinho de tempo não é nada proibitivo.  A não ser que se decida ficar...
        Sempre visitei e amei Búzios-RJ desde que a descobri, tal qual uma Brigitte Bardot dos tempos de adolescência deparando-se com uma surpresa escondida. Quando cheguei a Saint-Tropez, também uma península e ex-vila de pescadores, pude compreender o teor e o fundamento das comparações entre as duas e o elo que se estabeleceu entre elas e Bardot.
Ruas de St-Tropez
França...
St-Tropez
             Lugar onde o perfume francês exala sua melhor fragrância, ao mais puro frescor de um banho pós-praia e levado pela brisa da tarde; lugar onde as roupas brancas e chapéus tomam conta das calçadas que levam para os caminhos dos bistrôs, pelas entrelinhas das vielas com lojas chiques e ultrajantes, até alcançar a deslumbrante orla, enfeitada pelas mais sofisticadas lanchas e iates que se pode supor. Assim é Saint-Tropez em seu auge no verão, depois que todos já deixaram a praia e esperam o cair da noite.

Sofisticação
St-Tropez no fim de tarde
Caminhos de St-Tropez
         Sua água é clara e bonita, mas um pouco fria, tal como Búzios sempre se apresentou a meus calcanhares. Enfim, bem que eu gostaria, mas não pude ficar para saber melhor sobre as aventuras em suas areias. Passei apenas, em um repente, e foi o suficiente para gravar algumas cenas perpétuas em minha memória. Cenas, sons, cheiros, tons em uma euforia de sentidos inquestionável. Nada traduz melhor este sentimento que a lembrança de Bardot.

Península de St-Tropez
Vista dos iates do porto de St-Tropez
           Voltar foi complicado não somente pelo anoitecer em uma estrada que não sabíamos e nem queríamos ter que saber o caminho de volta. Foi complicado porque sabíamos que a festa continuaria sem nós, que o clima de Búzios, mas muito mais sofisticado e que tanto poderia nos envolver, acabou não podendo ser a nossa praia por mais que um único dia.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

MARSELHA – PORTA PARA O MEDITERRÂNEO

Nas bordas da suave Provence, região administrativa da Provence-Alpes-Côte D’azur, terminam os campos de lavanda e começam a soprar com mais vigor os ventos do Mediterrâneo. Foi assim que me deparei com Marseille (ou Marselha).
Foi como sair de um cenário de pedras ajustadas e campos floridos, com cara eterna de domingo, e adentrar em outra paisagem. Como sair de um portal mágico para alcançar outra realidade, também incrível. Como ver o rumo da viagem fazer a curva e se tornar uma nova viagem.
Povoada pelos gregos no século VII a.C e tendo passado pelo domínio dos romanos cerca de 49 a.C, foi tomada pelos francos após o Século V, depois do colapso do Império Romano. É a cidade mais velha da França e a segunda mais populosa, depois de Paris. Dona de um clima tão antigo quanto a sua história, somado ao mar azul turquesa que a contorna, Marseille é única. A arquitetura de casas enfileiradas forma um corredor quase simétrico de tons pastéis, que se afunila conforme tomamos distância, antes de dobrarmos qualquer uma de suas esquinas.
Ruas estreitas de Marseille
Afunilando a paisagem
Marseille e seus tons pasteís
Marseille
Marseille e seu centro velho
A cidade, por si só, não causa tanto impacto. Há de se procurar a sua beleza em seus detalhes. Mas em um minuto a nuvem se dissipa e você a encontra, tão logo avista o mar. Sim, o mar é que dá o tom. E o contraste se torna harmonia. Sendo assustadoramente antiga e grande, a cidade causa estranheza para quem acabou de sair dos campos de lavanda. Mas seus atrativos somados dão um belo dia ensolarado. Ou uma noite diferente.
Marseille - a cidade velha
Alinhamento
Marseille à noite
O Vieux-Port e sua margem recontam com suas imagens a história que não conhecemos profundamente. A cidadela datada de sua fundação estende-se em suas cercanias. Ali se concentram grandes monumentos, como o Forte Saint-Nicolas, o Forte Saint-Jean e o Palácio do Pharo. É possível gastar um bom tempo em seus restaurantes animados, além da possibilidade dos passeios de barco.
Vieux-Port
Porto antigo
Porto de Marseille
Barcos enfileirados no Porto de Marseille
Barcos partindo e chegando não deixam rastros no mar do que já ficou indelével em sua história. Importante rota de comércio, Marseille também foi foco da peste negra em 1348 por sua condição de porto, e mais da metade de sua população foi dizimada. Foi também o principal porto militar do Mediterrâneo, tendo sido bombardeada durante a II Guerra. O movimento de turistas em seu entorno é intenso, mas não tira o seu charme.
O cenário é tão bonito que parece clichê. Mas não é. Não em Marseille. O contato súbito com o Mediterrâneo causa impacto, principalmente diante da imponência do War Memorial, monumento com uma fenda que nos faz parecer estarmos sendo recebidos diante de toda a grandeza do Mediterrâneo que se agiganta à nossa frente.


Portas abertas ao Mediterrâneo
A vista do Chateau D’If pairando no azul que se estende vale a visita. Quem já leu Alexandre Dumas deve conhecer a história de “O Conde de Monte Cristo”. Particularmente, causou grande fascínio em minha adolescência. O castelo é o cenário onde os heróis do romance vivem suas tramas. Mas sua fama é anterior e vem desde o Rei François I, que ordenou a fortificação da cidade, em 1524.

Chateau D'If
Marseille dá muito valor à história, levando-se em conta sua riqueza cultural disposta em muitos museus, como o Palácio Longchamp, que não tive tempo de visitar. Foquei minha visita à sua condição de entreposto comercial de antigamente.
      Extrapolando as belezas de sua nada generosa natureza, Marseille tem o seu lado antigo muito aflorado em seu velho eixo. Grande e confusa para dirigir, com ruas muito estreitas, na cidade velha ficam os monumentos mais antigos, próximos também do Vieux-Port. Assim como o Mercado de Peixes, que também se concentra nos arredores. Acabamos deixando o carro no Hotel e cedemos ao trenzinho turístico, que tomamos no porto, para nos levar até a Basílica Notre-Dame de La Garde, símbolo da cidade e situada em uma colina.
Caminhos em seu entorno
Escadarias da Basílica
Basílica
A basílica atual, em estilo romano bizantino, foi concluída em 1864. Mas é de sua esplanada que a visita a Marseille ganha as devidas proporções. O visual é tão bonito e intensamente azul, que a identidade com a velha Marseille nos faz mergulhar em sua essência complexa. Do alto de seus despenhadeiros, revela-se uma cidade não imaginada.
Do alto da Basílica - vista impactante
Vista do Velho Porto
Tudo o que fizemos depois disso foi descer a colina, passear pelas suas ruas sem um compromisso certeiro, molhar os pés em suas águas frias, essas coisas de transeuntes e passageiros, turistas de um verão qualquer...
Plage des Catalans
Mediterrâneo
Nas bordas do Mediterrâneo
Dia de sol
Sua intensa relação com o mar e sua rotina de povos chegando e partindo, coroa-nos como meros espectadores. Sem fazer volume e com nenhuma relação com seu legado, ficamos ao acaso, sem rastros. Em via sem retorno, Marseille me marcou profundamente, como o lugar em que os ventos da Provence ganharam uma cor que não previ além da púrpura. E sopram até hoje em cores no pensamento, marcando o meu batismo naquelas águas Mediterrâneas.