quarta-feira, 16 de abril de 2014

AIX-EN-PROVENCE – SUBLIME FIM DE TARDE NA FRANÇA

        Na cidade onde Paul Cézanne nasceu e onde cresceu Emile Zola, concluímos nossa rápida passagem pela Provence. Em Aix-en-Provence, a maior de todas as cidades nas redondezas, a célebre região das lavandas perde a forma medieval rural e ganha ares um tanto mais urbanos, mas ainda assim sutis.
      Fundada pelos romanos, em particular Gaius Sextius Calvine, a cidade tem características burguesas. Apesar de territorialmente distante, isso a aproxima mais de Paris do que de suas vizinhas. Situada em um local privilegiado geograficamente, Aix está próxima do Mar Mediterrâneo – cerca de 30Km de Marseille - e, ao mesmo tempo, próxima de uma vidinha provençal bem agradável. Representou para mim a porta de saída de momentos únicos na Provence. Mas muitos fazem dela a base perfeita para um bate-e-volta pelas cidadezinhas da região.
Fontaine de La Rotonde
         À medida que nos aproximávamos, notei que as estradinhas, os campos de lavanda, os girassóis e vinhedos, iam ficando pelo caminho. As dimensões estavam se tornando outras, as estradas se alargavam, até alcançarmos a Fontaine de La Rotonde, marcando definitivamente a nossa chegada em Aix. Uma visão alegre em uma chegada tardia à cidade que fervilhava no domingo à tarde.
  Aix é jovem, universitária (com uma Universidade de cerca de 600 anos – Aix-Marseille Université), atraente e histórica. Por ter sido fundada por romanos, uma das atrações de Aix são suas fontes dispostas no Centro Histórico e redondezas, algumas cobertas por musgos, impondo-se no meio da avenida. Há a Fonte do Rei René, a Fonte dos 4 golfinhos, a Fonte dos 9 canhões e a Fonte de Água Quente, todas a poucos passos umas das outras, enfeitando Aix-en-Provence.
Fonte com musgos
Fonte dos 9 canhões
          Cours Mirabeau é o resumo ladeado por plátanos do que se tem de bom para fazer em um fim de semana em Aix. A larga avenida estava festiva, com a feira dominical enchendo a rua de pedestres, curiosos e turistas. Produtos naturais expostos, geleias de frutas frescas, flores, sabonetes de Marseille, mel, queijo de cabra, azeitonas e delicadezas extras da inigualável cozinha francesa.
Cours Mirabeau
Feira de Aix
           Mesmo que houvesse tantas coisas em Aix, não haveria nada mais agradável do que gastar as horas desfilando calmamente por Cours Mirabeau. E depois, em um final de tarde exaustivo onde havíamos percorrido os entornos que renderem muitas histórias e fotos, foi imprescindível terminar o dia em um de seus restaurantes convidativos. Foi como deixar a boa vida francesa tomar conta de nossa exaustão.
Cafés, restaurantes, bistrôs...
A cena em Aix-en-Provence
        Em Aix, há diversos museus, como o Museu Granet, e há muito sobre Paul Cézanne, como o seu ateliê, a casa familiar e as pedreiras de Bibémus, de onde ele retratou a natureza entre 1895 e 1904. Cézanne parece ainda poder ser encontrado em qualquer café, tamanha é a sua presença e importância. O seu filho mais ilustre ainda inspira muita gente que por ali passeia. É como estar no cenário perfeito para uma obra.
          As pessoas se soltam, transitam pelos restaurantes, ouvem boa música. Próximo do Hôtel de Ville e da Torre do Relógio, há muita movimentação. Um bom vinho, um fim de tarde mirabolante, para quem achou que estavam exauridas as possibilidades, após um dia de muitas descobertas.
Fontes em Aix-en-Provence
Aix-en-Provence
Boa vida em Aix
Fachadas
Torre do Relógio e Hôtel de Ville
        Passar pela Provence foi agir como se a vida esperasse em um remanso que retomássemos as coisas simples das quais nos afastamos. A Provence me mostrou na irônica aventura e correria de um só dia, que é preciso observar para absorver mais. É preciso desacelerar para sentir a vida. Então pude sentir as cores, os aromas e o vento de um dia de verão na Provence.
 Assim como Cézanne, eu a registrei internamente, em sua natureza morta, em suas esquinas vivas, em casarões bem conservados, em suas fontes de águas atemporais. Aliás, não pontuar o tempo na Provence parece sensato. Um único dia parece se multiplicar, transformar-se em vários, fragmentar-se em histórias vastas e profundas, que jamais deixarão de fluir em nós. Como as fontes romanas que ainda jorram as suas águas. É isso que se leva das viagens, quando não é nada que se leva desta vida. Uma memória, mesmo que frágil e tímida, sempre será uma memória.
 Ainda hoje me pego imaginando como teriam sido todos os dias na Provence. Todos os meus próximos dias... Enquanto estou aqui, de volta a essa vida acelerada, a minha mente passeia por lá. E garanto que em Cours Mirabeau.