quinta-feira, 16 de maio de 2013

AVIGNON, FRANÇA - UM ESPETÁCULO!

       Avignon quase ficou de fora do meu roteiro para a Europa. Entre tantos planejamentos, acabei enfim não postergando a chance de conhecê-la. Não tanto pela História, esta sim, que incluiu Avignon em seu roteiro por um desvio no percurso da História dos Papas. Quando o Papa Clemente V decidiu não voltar a Roma depois do caos de sua eleição em 1309, fazendo do prédio episcopal um magnífico palácio gótico, o "Palais des Papes", escreveu de vez o nome de Avignon no mapa. A cidade me ganhou talvez por estar na Provence, pelo nome, e por que não... sim, também pela História?
     Fazer qualquer roteiro pela Europa é muito complicado, porque se quer incluir tudo, naquela onda: "Já que estou aqui... não custa nada!" Custa sim! Mas não há preço para certas coisas que não só os olhos, mas também as nossas almas podem captar.
        Avignon me trouxe esse sentimento... Sair de Paris, que é um deslumbre, adentrar à França... e cair em uma cidadezinha medieval em pleno "Festival de Avignon", levou-me a outra dimensão. Tradicional todos os meses de Julho desde 1947, quando Jean Vilar deu asas a uma das maiores manifestações do teatro vivo contemporâneo, a cidade torna-se um palco a céu aberto por cerca de três semanas. Pessoas de todas as idades, de todas as formas e criatividade, mudam o cenário sorumbático dos tempos Papais para uma alegria inebriante.

Festival de Avignon 2012

Ruas de Avignon

Cidade abarrotada de gente
        Foi nesse clima que entrei pela primeira vez em uma cidade medieval: seus rústicos ares franceses, seu aroma do campo, suas cores representadas pela diversidade gastronômica, seu tom pardo desenhado nas curvas de seu labirinto de pequenas ruas iguais, mas tão diferentes! Pessoas fantasiadas, cartazes colados por todas as ruas convidando para as peças em locais reservados, representações em circuitos paralelos, artistas por toda a parte destrinchando seus segredos e desnudando suas performances. Fácil arrancar sorrisos.

Jeito bom de viver francês

Festival de Avignon

Aos pés do Palácio dos Papas
      Os muros da cidade medieval, que já foram barreira no passado, limitam e circundam em seu pequeno espaço a arte, visivelmente ilimitada, nessas semanas que o Festival toma forma em Avignon. A cidade fica abarrotada! E os muros são mesmo só uma lembrança do passado. Deve ter mais gente do lado de dentro do que de fora...
      O imponente Palácio dos Papas é uma fortaleza visual que norteia a cidade. Incrível como, com o Festival, o Palácio fica um tanto ofuscado diante de tantas outras possibilidades. Em outra ocasião, é a sombra imponente de Avignon. Um reservado refúgio de importância ímpar onde se realizaram 6 conclaves, tendo sido sede da cristandade no Ocidente até 1377. O Palácio perdeu seu esplendor, foi saqueado durante a Revolução Francesa, foi tomado por Napoleão Bonaparte e feito de prisão, mas sobreviveu às intempéries e hoje faz-nos reviver uma época de glória. Mesmo assim, sua imponência, diante dos dias do Festival, apesar de seu cinza, dá cores e vida ao ciclo da História. De uma forma ou de outra, ela continua se fazendo aos seus pés.

Palácio dos Papas

Palácio dos Papas e a platéia

Apresentação em frente ao Palácio

Calmaria ao lado do Palácio dos Papas

No interior do Palácio
     Do lado de fora das muralhas, o Rio Rhone corre tranquilo contornando a cidade. O que rouba a cena não são suas águas, mas sim a Ponte Bezénet, construída entre 1171 e 1175. Depois de tantas enchentes e calamidades que correram entre suas bases, a ponte não resistiu. Por volta de 1600, perdeu parte de sua estrutura e hoje só chega até a metade do rio. Não leva a lugar algum.

Ponte Bezénet

Rio Rhône e a Ponte parcialmente destruída - O Palácio ao fundo
     Assim como tantas outras que tentamos construir ou manter invulneráveis em nossas vidas, e que em um determinado ponto de nossa particular história, não nos levam a nenhuma parte. É imperativo regressar pelo mesmo caminho, pensativos, irredutíveis, convencidos de que é o único e melhor caminho. Um bom recomeço. Ver a vida deste lado, assim como ter visto Avignon deste ângulo, são cenas que não se apagam, e por si só são nossas pontes indestrutíveis para o nosso próprio passado. Roteiros de nossa própria trajetória para sempre preservados dentro de nossos muros interiores, em nosso caos organizado. 

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá, Natalie

    Quanta honra! Fiquei imensamente feliz em saber que o meu post foi selecionado! Sou fã do #Viajosfera. Obrigada!

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