domingo, 18 de maio de 2014

BRUGES – CENÁRIO DE TRANQUILIDADE

Gosto de me perder nas ruas e praças das pequenas cidades europeias, dessas carregadas de história e romantismo. Mas logo na entrada, quando avistei os frontões em degraus de cores ocres e tristonhas de suas casas ladeadas, tão marrons quanto cenários de guerra, entendi que o meu dia em Bruges, na Bélgica, seria mais do que uma viagem. 
Bruges
Frontões das casas de Bruges
Bruges (ou Brugge), província da região dos Flandres a 100Km de Bruxelas, envolve-nos com sua atmosfera e seu conjunto inigualável de casas e sombras entre suas ruas estreitas. Quando você pensa que é tudo, então se lembra de que ainda há os canais. Mas guerra, que nada! Bruges é terra de paz, apesar do turismo intenso. É terra de cervejas artesanais e chocolates. Passar um dia por lá é se permitir um dia tranquilo.


Bruges em sua tranquilidade
Linda Bruges
Remontam aos tempos de Júlio César as suas primeiras construções e fortificações para proteção contra os piratas. Alguns séculos mais tarde, quando os Vikings a invadiram, suas fortificações tiveram de ser reforçadas. Bruges viveu seu esplendor com a indústria têxtil de lã no século XII. Nessa época, mantinha contato comercial com a Inglaterra e Escandinávia, além de outras cidades europeias. Porém, o canal Zwin, que a conectava com o mar, estagnou devido à obstrução por lodo, o que a deixou às escuras na história por um tempo. Agora os turistas já sabem o caminho.
Bruges se apresenta sombria, mas se abre aos poucos com suas ruas voltadas ao turismo, repleta de lojas, principalmente com os tradicionais e deliciosos chocolates, pralines e cervejas artesanais. E ninguém acha ruim por isso. Nada de dizer que perdeu a originalidade, que é voltada demais para o turismo, coisa e tal. Bruges encanta de qualquer jeito. Não tem como não se render.
A grande praça
Ares de antigamente
A Madonna com o menino, de Michelangelo, está como obra máxima, mas tímida em um canto, na Igreja Onze Lieve Vrouwekerk. O filme “Caçadores de Obras-Primas", de 2014, retrata o resgate da obra das mãos do nazistas, que a haviam levado.
Madonna e o Menino, de Michelangelo
Grote Markt, sua praça principal e uma das mais encantadoras da Europa, é mesmo como cenário de filme, mas desses filmes de contos de fadas. O campanário do século XIII, Torre Belfort, impõe-se diante dos demais edifícios e do tribunal neogótico que a circundam, mas que também impressionam. É possível subir os 366 degraus que levam ao topo. De quebra, uma vista incrível lá do alto e a possibilidade de ser surpreendido com as badaladas do sino em seus ouvidos. Os restaurantes que fazem a praça ganhar vida são bastante atraentes. Claro que existem excelentes opções fora dos muros da cidade velha, mas afinal...
Grote Markt - tribunal neogótico
Torre Belfort
Grote Markt
Grote Markt
Vista da praça do alto da Torre
Caminhar ao lado do canal Dijver é um convite tentador. O melhor, no entanto, é fazer o passeio pelos canais. Uma das mais belas vistas da cidade, e de onde também se apanha o barco (pois há outros pontos de saída), é em Quai of the Rosary. O trajeto leva ao Lago do Amor e passa por baixo das pontes muito baixas. 
Canais de Bruges
Passeio pelos canais
Há muitos museus em Bruges, há várias igrejas, como a Basílica do Sangue Sagrado, que dizem conter uma relíquia com o sangue de Jesus, e há muito mais o que se fazer além do que nos permitimos. A nós nos encantou e bastou andar calmamente por suas ruas tranquilas e, só assim, poder senti-la. 
Town Hall
Burg Square
Corte Provincial
À medida que a noite chegava, as ruas foram ficando desertas, e Bruges foi ficando mais íntima, mais nossa do que dos outros turistas. As portas, as chocolaterias, as cervejarias, todas iam se escondendo do frio que se avolumava em suas esquinas. Fim de festa. Silêncio após a evasão dos turistas. A cidade voltando à sua normalidade.
O cenário de guerra nada teve a ver com ela, a não ser o fato de ter sido utilizada pelas tropas alemãs para atracar os seus submarinos durante a I Guerra, além da Madonna resgatada dos nazistas. Na verdade, suas construções só vieram de encontro a um estereótipo que martela em nossas ideias, construído por Hollywood, e que se dissipou ao longo do meu dia.
Depois de tanto caminhar por suas estreitas ruas, entendemos que não captamos o momento exato no qual Bruges se transformou em nossas concepções. De cidade marrom e triste, Bruges se esvazia. Em seus detalhes, ela nos enche de esperança, de romantismo e se torna parte de nossa própria história. Mais do que isso, torna-se uma tarde florida, uma lembrança tempestiva, um dia para se reviver.

Bruges - fim de tarde
Naquela noite, saímos com a sensação de que nem mesmo o frio que machucava nossos rostos descobertos e nossas mãos ávidas por fotos de muitos ângulos puderam sustentar em nós a ideia de cidade fria. Passar pela Bélgica e negligenciar Bruges é perder a cereja do bolo para o menino mais chato da festa. 

2 comentários:

  1. Oi, Márcia. Tudo bem? :D

    Seu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.

    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,
    Natalie - Boia

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    1. Olá, Boia

      Mais uma vez, é uma honra! Fico extremamente feliz.
      Abraços,

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