sexta-feira, 15 de março de 2013

KEY WEST, FLÓRIDA, USA

    Pedaços desconectados do continente, quase desconexos entre si, soltos a se lançar rumo a Cuba, no sentido contrário que a imigração americana não deseja de forma alguma. 90 milhas separam o regime de Fidel Castro e a paradisíaca Key West, muito americana, mas com som e cor de Caribe.
90 Miles to Cuba - Southernmost Point Continental - USA
     As Keys são chaves que revelam, de primeira, o ponto mais distante e não continental que conduz e abre as portas da América. Costuma-se chegar direto ao aeroporto de Miami e não dar importância às ilhotas. Eu mesma fiz isso muitas e muitas vezes antes de pisar nelas.
Vista aérea (cartão postal)
     O caminho que leva até elas nos faz entender que é preciso desacelerar para olhar em volta. O trajeto que se faria em 2 horas, faz-se em cerca de 4. A velocidade média da pista é bem baixa e não respeitar as regras seria, no mínimo, inconsequente. Uma ponte leva a outra, e a outra, e a outra ilhota... Mar para todos os lados. Imensidão! As ilhas não são tão charmosas quanto o Caribe, mas o clima em nada nos faz lembrar a balbúrdia americana e suas extravagâncias.
    Para quem vai ficar bem pouco tempo, há de se passar reto pelas primeiras ilhas e concentrar-se em chegar a Key West, que é a mais divertida e a última de todas. Logo de início, ainda no continente, margeia-se o Everglades National Park, o pântano gigantesco da Flórida. Uau! Quanta diversidade, não é mesmo?
    A maior ilha do arquipélago é Key Largo, a primeira delas. Nos fins de semana, muita gente se dirige para lá. Mas esse não era o nosso objetivo. Então prosseguimos: Islamorada, Marathon, Bahia Honda - que dizem ter a praia mais bonita - e por aí vai até se alcançar Key West. A principal via que liga as Keys é a Overseas Highway, mas depois que se passa pela Seven Mile Brigde, a paisagem muda. Tudo é mais desértico, a vegetação mais densa, o terreno parece mais acidentado.
    As ilhas são protegidas pelo único recife de corais vivos da América do Norte e muitos, mas muitos navios piratas naufragaram naquelas águas. O mais famoso navio espanhol naufragado, repleto de tesouros, foi o Atocha, localizado em 1985, após muitos anos de busca.
    Durante a viagem, ao longo do trajeto, ao longo das pontes gigantes que nos intrigam sobre a ousadia humana em ligar o arquipélago de forma tão espetacular e solitária, observa-se que a Overseas Railroad margeia boa parte do caminho...pura ousadia de Henry Flager! Imaginem: uma estrada de ferro construída em 1912 em condições muito adversas.
Estrada de ferro de Henry Flager de 1912 ao lado da Overseas Highway
    Dificuldades ou facilidades em se chegar, o mais importante é que durante o trajeto embute-se do desejo de entrar no clima e a mente entra em um relax total... Desaceleração! Resolvo estudar mais um pouquinho o guia e descubro que o primeiro registro da ilha é de 1513, mas isso já não faz a menor diferença. Você vai chegando em Key West, mas vê que Key West já chegou em você. E descobre que muito mais do que um acidente geográfico, Key West é um estado de espírito. Eu li isso em algum lugar...
Perto do Porto Velho

Ruas de Key West
     O interessante é que se pode percorrer Key West a pé (aliás, esse é o barato!). Cortar a famosa Duvall Street, viver seus barzinhos, sua música envolvente, suas casinhas coloridas, chegar ao Porto, ver os navios - ou sem navios mesmo... Desafiar os sentidos ao saborear a torta de Limão de Key West, a famosa Key Lime Pie (ai, muito boa!)! Chegar ao ponto mais ao sul do país, marcando a distância de Cuba, conhecer a 0 Mile e a casa de Ernest Hemingway! Sim, os escritores amavam estar ali. Quanta coisa para um lugar tranquilo, não é? Artesanato, arquitetura de madeiras dos tais naufrágios, puro charme em suas ruas desencanadas! E se você revirar, vai achar muito mais.
Duvall Street

Porto onde chegam os cruzeiros

Praia do Hotel Waldorf Astoria de Key West
     Mas ainda tem o detalhe da praia, pois não se pode partir de lá sem dar um mergulho no mar clarinho. Não se pode partir sem relaxar nas espreguiçadeiras do Hotel, como se o tempo estivesse sob o seu controle. Não se pode ir embora sem ter deixado de fora todas as preocupações que não frequentam aquele lugar.
     Tudo é tão envolvente e bom, que mesmo que se fique apenas um pouco, partir chega a ser uma tristeza, uma obrigação que a gente acaba não gostando de encarar. O caminho de volta é mesmo um desacato, mas necessário. Afinal, a vida real não pode ficar trancada do lado de fora para sempre. E é por isso que o caminho de volta parece mais longo... e isso me soa familiar.
      As chaves que nos levam para o paraíso devem ser deixadas de volta em seus perfeitos lugares. E jamais se deve destruir as pontes que nos levam para um estado de espírito como aquele, para que sempre se encontre um atalho para o regresso.

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