domingo, 9 de outubro de 2011

HANGZHOU, CHINA

   O paraíso na Terra. Assim é definida Hangzhou. E eu diria que fica bem próximo a isso, não fosse o calor infernal que enfrentamos em Julho em uma das cidades mais mágicas da China.
    O taoísmo sempre presente no gigantesco baguá que pode ser avistado do alto de uma montanha, a paisagem do lago Oeste que empresta sua estampa para a nota de 1 Yuan, as árvores que serpenteiam por toda a cidade, seguindo ou não o curso do lago. E jardins para nos lembrar que a vida é feita de momentos e que precisamos nos perder em caminhos sem destino antes de voltar à realidade das pressões cotidianas. Uma cidade às avessas dos arranhas-céus de Shanghai, bem próximos dali.
    
Lago Oeste (West Lake)
     Este foi o momento que a viagem realmente balançou as minhas estruturas: havia gente que estava ali para sentir a viagem, a cultura, quiçá uma mudança de comportamento baseado na observação da sabedoria chinesa. E havia gente que estava ali como se houvesse ido comprar um suco na esquina.
"Impressions of West Lake", Kitaro
      Eu, que sonhei por toda a minha vida em conhecer os lugares que eu morria de estudar na minha particular Geografia - passava horas debruçada em mapas traçando caminhos para ver onde o meu pai conseguiria chegar de carro (e olha que ele foi parar na Bahia!), tinha um globo terrestre todo riscado de tanto que eu estudava as cidades, e levei inúmeras broncas da minha mãe para parar de sonhar - senti naquele momento o peso de estar naquele lugar. À noite fomos levados para um show no famoso Lago Oeste, mas eu não podia imaginar a grandiosidade daquilo, nem mesmo dentro de mim.
Pavilhão no Jardim do West Lake
        Quando dei por mim, o cenário era o próprio lago e sua paisagem natural. O palco? Era na água. Sim, as pessoas ficavam dançando e representando lá dentro. A iluminação? Indescritível o que fizeram com as árvores... A Coreografia? Do mesmo que fez a Coreografia para a abertura das Olimpíadas de Beijing (agora fugiu-me o nome). A música era de Kitaro e a voz, da chinesinha da voz mais encantadora: Jane Zhang.
O Buda, em Templo de Hangzhou
          As luzes todas apagadas e, de repente, a China estava toda à minha frente... Eu estava ali, olhando para aquelas montanhas ao fundo, iluminadas com muito cuidado para não ofuscar o brilho do espetáculo. A música, as pessoas, o todo, fizeram-me entender que sim, eu estava ali, que eu havia dado meia volta ao mundo, e que os sonhos são possíveis quando acreditamos. Então neste momento desabei mais uma vez na China. Só consegui agradecer pela oportunidade que Deus havia me dado de ter acreditado e de ter me feito tão teimosa, a ponto de lutar para estar ali. Entristeci-me pelas pessoas que jamais terão a oportunidade de estar ali, como a minha mãe, como as minhas avós, que viveram de um modo único e particular, e isso não fazia parte do sonho delas. Meus filhos, meu pai, meus irmãos, ou as pessoas que nem sonham que o mundo é tão bonito, ou as pessoas que não se dão o direito de sonhar, ou que não podem mesmo, ou aquelas que podem, mas acham que seu pedaço de chão já é suficiente. Não posso querer que as pessoas queiram as mesmas coisas que eu. Mas certamente se soubessem... E orei, principalmente, por aqueles que estavam tendo a oportunidade de estar ali, naquele dia, mas que na verdade nada absorveram. Deus ilumine essas pessoas.

Lugares calmos no local do Baguá

Campos de Girassóis
         No silêncio interior que aquele musical na cidade mais linda proporcionou-me, na escuridão daquele lugar, nas luzes que vi brilhar naquela noite, na sabedoria de seu povo, tirei para mim o melhor da viagem, o melhor que eu pude dar a mim mesma: estar conectada com as lições que fui buscar. Aprendi que o melhor se encontra dentro de nós mesmos quando desejamos muito, na gratidão que sentimos, na forma como nos realizamos, nas maneiras mais simples ou complicadas de realizarmos os nossos sonhos. Não é preciso ir para a China para realizar os sonhos. Houve gente que foi e não se realizou. Pode-se apenas ir mesmo comprar o suco na esquina, mas desde que se tire o melhor sempre, de tudo o que se vive, de tudo o que se quer.

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