Costurando
os caminhos da Provence, é possível se deparar com algo fora do comum, em um
lugar em que tudo é incomum. A apenas 8Km de Lourmarin esconde-se Cucuron.
Ainda na Provence, mas nada de mais do mesmo, pois a Provence é uma surpresa a
ser desvendada por olhos coesos e sensíveis ao menor de seus apelos.
Eu
estava em busca, especificamente, da Praça L’Etang. Foi lá um dos encontros de
Russell Crowe e Marion Cotillard, protagonistas de “Um bom ano”, de Ridley
Scott. Mas mais do que cenário de filme, descobri em L’Etang uma daquelas
típicas praças que não se acredita que existam fora das telas.
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Place L'Etang |
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Place L'Etang |
Pelo
menos por toda a tarde, por toda a vida, ou por questão de horas, não se quer
arredar o pé dali. Um lago construído e mantido para ser o centro, ladeado por
plátanos, delicadamente protegido por uma sombra espetacular, no ritmo doce
provençal, cercado de mesinhas que se estendem ao redor da praça. Assim é L’Etang.
E
a impressão que se tem é que Cucuron começa e acaba ali, ao redor da praça. O começo
e o fim. O que não é bem verdade. Cucuron tem algumas poucas ruas muito
interessantes, com casinhas medievais delicadamente cuidadas, com suas janelas
pintadas de cores sutis, com suas lavandas emoldurando as tardes das senhoras
que se debruçam nos parapeitos das poucas janelas que se expõem. E assim a
tarde se esvai.
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Ruas de Cucuron |
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Ruas vazias em um domingo à tarde |
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Cucuron |
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Cucuron |
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Igreja em Cucuron |
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Portais medievais em Cucuron |
Muitas
outras janelas fechadas em um domingo à tarde. Onde estavam todos? Seria
Cucuron habitada ou uma miragem no coração da França? Mas em volta da praça... Ah!
A praça... Todos pareciam estar ali. Ruas vazias, poucas pessoas. E a cidade às
sombras de uma praça encantadora, cultivando um quê de solidão, mas onde a solidão
não dá as cartas.
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Todo mundo em L'Etang |
Cucuron
tem um movimento tímido, no ritmo que a cidade pede. L’Etang é o lugar dos
encontros, assim como no filme. Nosso encontro com uma França bem escondida, ou
talvez um encontro com a nossa própria essência, quando vasculhamos nossa alma,
quando nos olhamos nos reflexos daquelas águas do lago da praça. No silêncio
de um domingo à tarde...
Na
esférica aventura entre seus contornos, é perecível todo instante que faz da
praça um universo. De mãos dadas, seguimos... Tão juntos e tão ajustados, que
Cucuron foi uma passagem em nossas vidas. Ou nós, que passamos sem deixar
marcas, em nosso trajeto único, sempre avante. Gostaríamos de ter ficado. Mas é
Cucuron que fica. Não pálida e sem jeito ao redor da praça, mas em nosso
imaginário do ideal de uma bela vida sossegada.