Gosto
de me perder nas ruas e praças das pequenas cidades europeias, dessas
carregadas de história e romantismo. Mas logo na entrada, quando avistei os
frontões em degraus de cores ocres e tristonhas de suas casas ladeadas, tão
marrons quanto cenários de guerra, entendi que o meu dia em Bruges, na Bélgica,
seria mais do que uma viagem.
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Bruges |
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Frontões das casas de Bruges |
Bruges
(ou Brugge), província da região dos Flandres a 100Km de Bruxelas, envolve-nos
com sua atmosfera e seu conjunto inigualável de casas e sombras entre suas ruas
estreitas. Quando você pensa que é tudo, então se lembra de que ainda há os
canais. Mas guerra, que nada! Bruges é terra de paz, apesar do turismo intenso. É terra de cervejas artesanais e chocolates. Passar um dia por lá é se permitir um dia
tranquilo.
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Bruges em sua tranquilidade |
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Linda Bruges |
Remontam
aos tempos de Júlio César as suas primeiras construções e fortificações para
proteção contra os piratas. Alguns séculos mais tarde, quando os Vikings a
invadiram, suas fortificações tiveram de ser reforçadas. Bruges viveu seu
esplendor com a indústria têxtil de lã no século XII. Nessa época, mantinha
contato comercial com a Inglaterra e Escandinávia, além de outras cidades
europeias. Porém, o canal Zwin, que a conectava com o mar, estagnou devido à
obstrução por lodo, o que a deixou às escuras na história por um tempo. Agora
os turistas já sabem o caminho.
Bruges
se apresenta sombria, mas se abre aos poucos com suas ruas voltadas ao turismo,
repleta de lojas, principalmente com os tradicionais e deliciosos chocolates,
pralines e cervejas artesanais. E ninguém acha ruim por isso. Nada de dizer que
perdeu a originalidade, que é voltada demais para o turismo, coisa e tal.
Bruges encanta de qualquer jeito. Não tem como não se render.
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A grande praça |
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Ares de antigamente |
A
Madonna com o menino, de Michelangelo, está como obra máxima, mas tímida em um
canto, na Igreja Onze Lieve Vrouwekerk. O filme “Caçadores de Obras-Primas", de
2014, retrata o resgate da obra das mãos do nazistas, que a haviam levado.
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Madonna e o Menino, de Michelangelo |
Grote
Markt, sua praça principal e uma das mais encantadoras da Europa, é mesmo como
cenário de filme, mas desses filmes de contos de fadas. O campanário do século
XIII, Torre Belfort, impõe-se diante dos demais edifícios e do tribunal
neogótico que a circundam, mas que também impressionam. É possível subir os 366
degraus que levam ao topo. De quebra, uma vista incrível lá do alto e a
possibilidade de ser surpreendido com as badaladas do sino em seus ouvidos. Os
restaurantes que fazem a praça ganhar vida são bastante atraentes. Claro que
existem excelentes opções fora dos muros da cidade velha, mas afinal...
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Grote Markt - tribunal neogótico |
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Torre Belfort |
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Grote Markt |
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Grote Markt |
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Vista da praça do alto da Torre |
Caminhar
ao lado do canal Dijver é um convite tentador. O melhor, no entanto, é fazer o
passeio pelos canais. Uma das mais belas vistas da cidade, e de onde também se
apanha o barco (pois há outros pontos de saída), é em Quai of the Rosary. O
trajeto leva ao Lago do Amor e passa por baixo das pontes muito baixas.
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Canais de Bruges |
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Passeio pelos canais |
Há
muitos museus em Bruges, há várias igrejas, como a Basílica do Sangue Sagrado,
que dizem conter uma relíquia com o sangue de Jesus, e há muito mais o que se
fazer além do que nos permitimos. A nós nos encantou e bastou andar calmamente
por suas ruas tranquilas e, só assim, poder senti-la.
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Town Hall |
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Burg Square |
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Corte Provincial |
À
medida que a noite chegava, as ruas foram ficando desertas, e Bruges foi
ficando mais íntima, mais nossa do que dos outros turistas. As portas, as
chocolaterias, as cervejarias, todas iam se escondendo do frio que se avolumava
em suas esquinas. Fim de festa. Silêncio após a evasão dos turistas. A cidade
voltando à sua normalidade.
O
cenário de guerra nada teve a ver com ela, a não ser o fato de ter sido
utilizada pelas tropas alemãs para atracar os seus submarinos durante a I
Guerra, além da Madonna resgatada dos nazistas. Na verdade, suas construções só
vieram de encontro a um estereótipo que martela em nossas ideias, construído por
Hollywood, e que se dissipou ao longo do meu dia.
Depois
de tanto caminhar por suas estreitas ruas, entendemos que não captamos o
momento exato no qual Bruges se transformou em nossas concepções. De cidade
marrom e triste, Bruges se esvazia. Em seus detalhes, ela nos enche de
esperança, de romantismo e se torna parte de nossa própria história. Mais do que isso, torna-se uma tarde florida, uma lembrança
tempestiva, um dia para se reviver.
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Bruges - fim de tarde |
Naquela
noite, saímos com a sensação de que nem mesmo o frio que machucava nossos
rostos descobertos e nossas mãos ávidas por fotos de muitos ângulos puderam
sustentar em nós a ideia de cidade fria. Passar pela Bélgica e negligenciar
Bruges é perder a cereja do bolo para o menino mais chato da festa.
Oi, Márcia. Tudo bem? :D
ResponderExcluirSeu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Natalie - Boia
Olá, Boia
ExcluirMais uma vez, é uma honra! Fico extremamente feliz.
Abraços,