Na
cidade onde Paul Cézanne nasceu e onde cresceu Emile Zola, concluímos nossa
rápida passagem pela Provence. Em Aix-en-Provence, a maior de todas as cidades
nas redondezas, a célebre região das lavandas perde a forma medieval rural e
ganha ares um tanto mais urbanos, mas ainda assim sutis.
Fundada pelos romanos, em particular
Gaius Sextius Calvine, a cidade tem características burguesas. Apesar de
territorialmente distante, isso a aproxima mais de Paris do que de suas
vizinhas. Situada em um local privilegiado geograficamente, Aix está próxima do
Mar Mediterrâneo – cerca de 30Km de Marseille - e, ao mesmo tempo, próxima de
uma vidinha provençal bem agradável. Representou para mim a porta de saída de
momentos únicos na Provence. Mas muitos fazem dela a base perfeita para um
bate-e-volta pelas cidadezinhas da região.
|
Fontaine de La Rotonde |
À medida que nos aproximávamos,
notei que as estradinhas, os campos de lavanda, os girassóis e vinhedos, iam
ficando pelo caminho. As dimensões estavam se tornando outras, as estradas se
alargavam, até alcançarmos a Fontaine de La Rotonde, marcando definitivamente a
nossa chegada em Aix. Uma visão alegre em uma chegada tardia à cidade que
fervilhava no domingo à tarde.
Aix
é jovem, universitária (com uma Universidade de cerca de 600 anos – Aix-Marseille
Université), atraente e histórica. Por ter sido fundada por romanos, uma das
atrações de Aix são suas fontes dispostas no Centro Histórico e redondezas,
algumas cobertas por musgos, impondo-se no meio da avenida. Há a Fonte do Rei
René, a Fonte dos 4 golfinhos, a Fonte dos 9 canhões e a Fonte de Água Quente,
todas a poucos passos umas das outras, enfeitando Aix-en-Provence.
|
Fonte com musgos |
|
Fonte dos 9 canhões |
Cours Mirabeau é o resumo ladeado
por plátanos do que se tem de bom para fazer em um fim de semana em Aix. A
larga avenida estava festiva, com a feira dominical enchendo a rua de
pedestres, curiosos e turistas. Produtos naturais expostos, geleias de frutas
frescas, flores, sabonetes de Marseille, mel, queijo de cabra, azeitonas e
delicadezas extras da inigualável cozinha francesa.
|
Cours Mirabeau |
|
Feira de Aix |
Mesmo que houvesse tantas coisas em Aix, não haveria nada mais agradável do que gastar as horas desfilando
calmamente por Cours Mirabeau. E depois, em um final de tarde exaustivo onde
havíamos percorrido os entornos que renderem muitas histórias e fotos, foi
imprescindível terminar o dia em um de seus restaurantes convidativos. Foi como
deixar a boa vida francesa tomar conta de nossa exaustão.
|
Cafés, restaurantes, bistrôs... |
|
A cena em Aix-en-Provence |
Em Aix, há diversos museus, como o
Museu Granet, e há muito sobre Paul Cézanne, como o seu ateliê, a casa familiar
e as pedreiras de Bibémus, de onde ele retratou a natureza entre 1895 e 1904.
Cézanne parece ainda poder ser encontrado em qualquer café, tamanha é a sua
presença e importância. O seu filho mais ilustre ainda inspira muita gente que por
ali passeia. É como estar no cenário perfeito para uma obra.
Passar pela Provence foi agir como
se a vida esperasse em um remanso que retomássemos as coisas simples das quais
nos afastamos. A Provence me mostrou na irônica aventura e correria de um só
dia, que é preciso observar para absorver mais. É preciso desacelerar para
sentir a vida. Então pude sentir as cores, os aromas e o vento de um dia de
verão na Provence.
Assim
como Cézanne, eu a registrei internamente, em sua natureza morta, em suas
esquinas vivas, em casarões bem conservados, em suas fontes de águas
atemporais. Aliás, não pontuar o tempo na Provence parece sensato. Um único dia
parece se multiplicar, transformar-se em vários, fragmentar-se em histórias
vastas e profundas, que jamais deixarão de fluir em nós. Como as fontes romanas
que ainda jorram as suas águas. É isso que se leva das viagens, quando não é
nada que se leva desta vida. Uma memória, mesmo que frágil e tímida, sempre
será uma memória.
Ainda
hoje me pego imaginando como teriam sido todos os dias na Provence. Todos os
meus próximos dias... Enquanto estou aqui, de volta a essa vida acelerada, a
minha mente passeia por lá. E garanto que em Cours Mirabeau.
Nenhum comentário:
Postar um comentário