Nem
demorou tanto o trajeto entre a Abadie de Senánque e Lourmarin, um outro
vilarejo especial no coração da Provence. É, outrossim, um deleite trafegar
pelas estreitas estradas da região, absorvendo o ar puro e as vistas
esplêndidas que a Provence proporciona.
Apenas por um dia, um caminho que
nos leva por onde passearam os sonhos. Assim é percorrer suas
tranquilas pistas. Visão de turista entremeada com a vida que se leva por ali. Pontos
de vista diferentes, mas o ar que respiramos é o mesmo. E a inspiração,
então...
Que
o diga Peter Mayle! O inglês autor de Um ano na
Provence e Um bom ano, que depois
de viver em Menerbes, alongou-se por Lourmarin e fez dela a sua morada. Terra
também de Albert Camus, o vilarejo é um convite para ficar mais do que se
planejou. Eu bem que gostaria. Mas infelizmente, quando programamos a viagem,
raramente temos a noção exata do quanto o nosso coração demandaria se alongar.
Era
domingo. Domingo de Julho. Pode-se fazer ideia da invasão dos turistas apenas
pelas datas. E pode-se ter ideia de que o sossego provençal quebrado pelos curiosos
não deva ser tão agradável aos franceses quanto o burburinho de uma nova
descoberta é para nós.
Um
campinho de futebol lotado demonstrava que não só no Brasil é que o esporte tem
grande adesão. O que arrematava a vista – e o diferenciava de vez do Brasil - era
o Castelo renascentista imponente posicionado nas proximidades: Villa Medicis de Provence. Claro, o
tradicional trânsito de turistas em seu interior e ao seu redor denotavam que
sua história ficou no passado, de fato. Ele agora é um troféu nas fotos que os
turistas vão guardar em suas lembranças. Seu entorno romântico, sua cave de
vinhos, as heras que envolvem seus contornos, as oliveiras que o cercam, convidam
para uma pausa. E tudo o que se tem mais direito em um domingo na Provence é a uma
pausa.
Lourmarin |
Castelo Villa de Medicis |
Oliveiras |
Castelo em Lourmarin |
Não
me alonguei demais. Nem poderia. Turistas lotam de compromissos mesmo um dia na
Provence... Na Provence!!!
Mas
as ruelas são um atrativo para um café. A cidade, uma companhia solitária em
meio aos vultos dos turistas. Um momento para pensar na vida que não me dei. Na
vida tão diferente que em nosso real dia a dia vivemos. Nos instantes de paz
dos quais me privei nesses anos de correria sem sentido.
Cave no Castelo |
Vinhos em Lourmarin |
O
vilarejo pequeno e suas ruas estreitas, suas casas ocres, ávidas por vida,
chamavam a mim, como chamaram a Albert Camus, a Peter Mayle e as multidões de
turistas que por ali se encaixam todos os anos. O vilarejo me convidava a
refletir sobre os rumos que tenho dado à minha vida. E cada um aproveita o
convite à sua maneira peculiar.
Heras
cresceram ao redor do Castelo em anos que não voltam, e que não ousaríamos
repetir. As heras que foram soerguidas ao mesmo tempo em nossos muros menos
nobres de alvenaria encobrem nossas falhas com seus densos ramos. São nosso irregular
reboque e se confundem com as folhas ressequidas que se esvaem pelos vãos de
nossos dedos. Nossos dedos, que há muito perderam a contagem do tempo... E
assim deixei transcorrerem as horas no coração de Lourmarin.
Os
verdes dias do passado irão sempre sugerir e instigar uma curiosa olhadela por
sobre os altos muros que construímos ao redor de nós mesmos, tais quais as altas
e imponentes fortalezas do tal Castelo. E o passado será sempre irresistível
através dos altos muros que hoje nos dividem. Muros que sempre apartam:
presente e passado, o agora e o depois, o hoje do nunca mais, uma viagem e a nossa
vida tão comum e, finalmente, Lourmarin de nossas simples cidades. Mas é na simplicidade
de nossas vidas que construímos nossos castelos particulares, nossos sonhos e
nossos campinhos de futebol.
O
café acabou. Mas Lourmarin continuará para todos os turistas que por lá se
alongarem em pensamentos.
Bati
a poeira dos pés, calcei de volta meus sapatos, e segui o rumo da estrada que
me levaria a algum lugar que ainda, até agora, desconheço. Para quais direções mesmo
levam as estradas sinuosas da Provence?
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