Há muito o que se falar de Paris! Aliás, Paris dá o que falar o
tempo todo: é o centro da arte, da moda, tem uma vasta gastronomia e é o centro
do universo no que há de mais sofisticado. Em meio a tantas coisas, fica
difícil se situar em algum ponto que não tenha sido já repetidamente explorado.
Por isso, não quero falar nada que não tenha sido a minha experiência pessoal,
com um olhar único e iluminado do que pude ver da cidade-luz.
Ao desembarcar em nossa primeira viagem pela
Europa, houve um misto de deslumbramento e ansiedade que me tomaram de assalto.
Como é de praxe, um bom planejamento faz toda a diferença para se chegar ao
Hotel da forma mais econômica possível (trem e metrô). Mas na Europa isso faz
mais sentido ainda. Há um detalhe: apesar de muito bem servida pelo metrô, as
estações de Paris em geral não oferecem acessibilidade. Subir e descer as
escadas com as malas é, por si só, um dos maiores desafios da viagem! O resto é
curtição.
Como não se envolver logo de cara com a
possibilidade de subir a Torre Eiffel de forma tão afoita quanto se escalaria o
Everest? Não havia como esperar. A ansiedade era tanta que as muitas horas de
voo e o cansaço do sobe e desce com malas nas escadarias do metrô não foram
qualquer empecilho.
Acabamos optando por subir de escadas até o
nível que isso seria possível e, teríamos nos arrependido, não fosse a linda
vista e a sensação de se estar ganhando o mundo. Poderíamos ter ido de
elevador. Mas não seria tão duradouro e inesquecível. A obra de 1889 é, de
fato, um símbolo de identidade de Paris com o mundo. Construída para comemorar
o centenário da Revolução Francesa e figurar como atração na porta de entrada da
Expo Mundial daquele ano, a Torre Eiffel foi escolhida depois da realização de
um concurso para escolher o melhor projeto. Gustave Eiffel, que já havia
trabalhado na construção da estrutura metálica da Estátua da Liberdade, saiu
vitorioso, mas ainda teve que enfrentar as críticas de artistas da época, que
enfaticamente protestaram contra a sua construção.
Lá do alto, seus caminhos fazem retumbar em
nossas mentes uma sensação do ideal revolucionário que mudou a história do
mundo. Sua estrutura metálica é de uma imponência ímpar sobre o bom gosto da
cidade iluminada. Ao entardecer, seus desenhos aos pés do Sena e a vastidão de
Paris lá embaixo nos arremessam de vez no clima da viagem.
Museu do Louvre |
Rasgar as ruas apaixonantes de Paris é uma tarefa
sutil e encantadora. Em Les Invalidées, há muito o que ver no Musée de L'Armé
(Napoleão e o seu cavalo branco - e raquítico - estão por lá). Seguindo
adiante: Ponte Alexandre III, a mais linda de todas, às margens do Sena. Grand
Palais, Petit Palais... até alcançarmos a Place de La Concorde, local do
obelisco dado por Luxor e da velha guilhotina, onde foram decapitados Luís XVI
e Maria Antonieta. Agradável é alcançar o Jardins de Touleries e, logo à
frente, a visita imperdível de Paris: o Museu do Louvre. Lá, gasta-se o tempo
que quiser. Pode-se ficar muito ou pouco, mas o fato é não se pode deixar de
ficar impressionado diante de obras como a Monalisa, Vênus de Milo, entre
tantas outras.
Mas Paris tem muito mais do que isso. Dentre tantas
possibilidades, há L'Operá e os
convidativos cafés espalhados em cada esquina (como o Café de La Paix). Há a
Champs Elysées e as chamativas lojas que a ladeiam. Há também o magnífico Arco
do Triunfo - centro que distribui 12 largas avenidas e nos arrebata. Além
disso, há os Jardins de Luxemburgo, Quartier Latin, Boulevard St. Michel e seus
arredores. Mas seria necessário muito mais tempo em Paris para sair do básico
de uma primeira viagem e descortinar suas entrelinhas.
Musée de L'Armée |
Champs Elysées e o Arco do Triunfo |
Além da beleza de suas obras tão fantásticas, do romantismo
impresso em seus prédios transcedentais, Paris tem cheiro de glamour e de
história no ar. O Palácio de Versailles - afastado da Paris propriamente dita –
é uma visita obrigatória, mas impactante.
Não há como não tropeçar em história e reviver o que se imaginava nos livros. O tempo, invariavelmente, fica um pouco confuso. Os rostos nas paredes parecem perdidos em uma história que não reconhecemos em nosso íntimo, mas simultaneamente parecem familiares ao nosso tempo de escola. Entre os corredores, os cômodos, os aposentos e os jardins magníficos de Versailles sucumbiram segredos que não fizeram a curva da história. Quanto tempo exatamente ela demanda para se afastar definitivamente de nós e sujeitar-se às excentricidades que reconhecemos em seus personagens, muito mais do que a sua real imponência? Naqueles jardins construídos meticulosamente por alguém, para
alguém, o que havia se perdeu no vão do tempo. As pessoas se tornam personagens
em nossa imaginação. A história deixa muitas lacunas em nossas mentes que ninguém é
capaz de preencher. Os últimos saíram pé ante pé sem sequer apagar a luz.
Não há como não tropeçar em história e reviver o que se imaginava nos livros. O tempo, invariavelmente, fica um pouco confuso. Os rostos nas paredes parecem perdidos em uma história que não reconhecemos em nosso íntimo, mas simultaneamente parecem familiares ao nosso tempo de escola. Entre os corredores, os cômodos, os aposentos e os jardins magníficos de Versailles sucumbiram segredos que não fizeram a curva da história. Quanto tempo exatamente ela demanda para se afastar definitivamente de nós e sujeitar-se às excentricidades que reconhecemos em seus personagens, muito mais do que a sua real imponência?
Palácio de Versailles |
Sala dos Espelhos |
Jardins de Versailles |
Sim, mas Paris nos permite fazer da nossa própria história algo
tão peculiar (para nós mesmos, claro) por alguns instantes, e esses instantes
vão se estender e durar a vida inteira. Momentos como andar no Bateaux Mouche,
caminhar margeando o Sena, tornam-se inesquecíveis. Vislumbres de Paris de
ângulos imprevisíveis. Ver a Catedral de Notre-Dame, contornar a Île de La
Cité, visitar o Museu D'Orsay... e, finalmente, viajar de vez nas Galerias
Lafayette!
Passeio de Bateaux Mouche pelo Sena |
Catedral de Notre Dame |
Jardins de Luxemburgo |
Ruas de Paris |
Uma pena não termos tido tempo de chegar a Montmatre, a colina
boêmia da cidade-luz, onde se reuniam figuras como Degas, Cézanne, Renoir,
Monet e Van Gogh. Até os dias de hoje é reduto de artistas e o seu charme é de
fama internacional. Montmatre também revela seus segredos, como seus cabarés –
e o famoso Moulin Rouge, com suas dançarinas de cancan. A Sacré-Coeur, uma das
mais lindas Igrejas de Paris, também se apresenta imponente na colina. Apenas a
avistamos de longe, de outro ponto de Paris. Não ter chegado a Montmatre talvez
tenha sido um grande sacrilégio. Mas pensando bem, é um grande motivo para
voltar à cidade.
Caminho para L'Opera |
Importantes monarcas desenharam os capítulos da história da França.
Os reis franceses serão sempre lembrados como símbolo de ostentação e poder:
Carlos V, Luís XVIII, Luís XIV – o Rei Sol – e Luís XVI, quando houve a queda
da Bastilha e a República tomou lugar da Monarquia, através dos ideais da
Liberdade, Igualdade e Fraternidade que ressoaram mundo afora. Napoleão levou a
França de volta ao Império depois de um golpe bem sucedido. E tudo isso tão
vivo, tão vivo naquelas ruas cinzas! A história a um passo dos muitos anos que
nos separam. E tão moderna, Paris, tão vigorosa! Tão vigorosa que nos perdemos nessa
dimensão louca entre passado e presente, entre os séculos em que estivemos
ausentes.
Croissants exalando seu doce sabor, enquanto atravessávamos
apressados as muitas esquinas de Paris. Cafés lotados de pessoas curtindo a
vida de uma forma charmosa e peculiar, tropeçando em uma história que de vez em
quando até deixávamos de lado para assimilar tudo o que se apresentava a nossa
frente. E nós dois, meu marido e eu, tentando ganhar o mundo, tentando desgustar
Paris antes de digeri-la. Cada passo entre suas ruelas escondidas revelava um
novo sabor e íamos tomando gosto pela cidade apaixonante. Depois de alguns
dias, estávamos totalmente rendidos por tudo o que vimos e captamos.
Para
quem ainda não conhece Paris, afirmo: sim, Paris tem todos os motivos para ser
o centro do Universo. Se Galileu não tivesse provado o contrário, eu até
acreditaria que o mundo, o Sol e todos os astros é que giram em torno dela. E a
história, por lá, não parou no tempo. A história gira, gira, gira ao redor de
todas as cabeças pensantes que a foram decifrar de alguma maneira. Nenhuma história,
de lugar algum, subsiste sem ter dado um rasante, ao menos, em Paris. E depois
que se passa por ela, nem que seja por alguns míseros instantes, a história
muda, a visão de mundo é outra, e se sai de lá acreditando que se ganhou alguma
importância. Paris tem esse poder de mudar qualquer coisa, inclusive as
pessoas. E de deixar muita saudade.